sábado, 17 de novembro de 2012

Capitulo 06:


Sonhos de uma Noite de Inverno:

A noite estava escura. Um vulto avermelhado passou em frente à lamparina a óleo que iluminava o portão de um enorme casarão. Aquilo era tudo o que se podia se deslumbrar no que parecia ser uma calma estrada. Um dos guardas do portão de ferro entrou, mas somente chegou a tempo de ver as ultimas dobras de uma capa preta sumindo pelo arco de mármore à sua frente. O homem apertou mais forte o cabo da arcabuz. Temeroso, aproximou-se da porta do Arsenal, local de onde vinha um ruído estranho de metais sendo jogados contra pedra. Enchendo-se de coragem, o jovem guarda chutou a porta e atirou com a arcabuz duas vezes em direção ao teto… E se arrependeu logo em seguida. Olhando para ele do outro lado da sala, severamente, estava uma mulher feita de luz. Ou pelo menos era o que parecia: Ela flutuava nua, exceto por um lenço vermelho em volta de seu pescoço, pelo menos a dois palmos do chão. De seu corpo emanava uma brilhante luz rosada e grossa como névoa. Nove caudas vermelhas eram visíveis saindo do fim de suas costas.
- Raposa de nove caudas! – Disse ele em japonês. – Perdão! E-eu não sabia… – Ele se prostrou diante dela e jogou sua arma aos pés da mulher.
- Idiota! – Ela respondeu, raivosa, na mesma língua. - Ousa atacar uma serva de Inari? – Ela parou de flutuar e caminhou em direção a ele. – Onde posso encontrar seu templo imundo? – Ela chutou-o no peito e ele se estatelou na parede.
- Porque uma serva de Inari quereria saber iss… – Ele foi cortado por um chute em seu rosto.
- Onde está sua igreja? – Gritou ela, irada.
- Duas casas à frente, na estrada! – Disse ele, no mais fluente português.
- Fala a língua invasora, Baka? – Disse em tom maldoso. Então, com um estalar de dedos, a ilusão que aprontara se desfez e a névoa voltou a ser manto e capa negra, e as nove caudas a ser uma, escondida pela capa. – Inari adorará te conhecer… – Ela passou, como se acariciasse, o dedo pelo pescoço do homem, que sorriu ingenuamente. Quando ela finalmente saiu pela porta com algumas armas que roubou, o veneno paralisante e mortal que ela injetara no homem já chegara ao coração. De manhã, quando o encontrassem, ele ainda continuaria a sorrir.
***
O ar fresco da noite lhe fustigou o rosto. Depois de sair do arsenal, fora muito fácil passar pelo outro guarda. Apenas ilusionara-o com a imagem do morto e dissera que iria patrulhar as redondezas, pois um ladrão fugira carregando algumas coisas do arsenal.
Aproximou-se, ligeira, da frente do seu destino: Alta e bela erguia-se a suntuosa catedral barroca, silenciosa sobre a colina. Suas torrinhas arredondadas lembravam guaritas, como se anjos protegessem aquele lindo lugar, seus topos pontiagudos furavam a névoa modorrenta da noite fria. Sua fachada principal, assim como o corpo da igreja, era curvilínea. As escadas eram de pedra branca, manchada pelo uso, mas isso não a deixava menos bela. Acima da porta principal, anjos surgem da parede e estes seres de mármores, belos como nenhum mortal poderia ser, seguravam um pergaminho, feito em pedra mais clara, por sobre o portal. No pergaminho podiam ser lidas, sem nenhum esforço, as belas letras cursivas desenhadas a fogo: “Qui credit in eum non pereat sed habeat vitam aeternam”, do latim “Aquele que acredita em mim não perecerá, mas terá a vida eterna”. Por dentro, ela era quase totalmente folheada a ouro e, cada parede lateral carregava sete quadros, mostrando o caminho de Cristo até Gólgota. Altares laterais repletos dos mais variados e belos entalhes exaltavam os santos. A pintura da ascensão de uma Nossa Senhora, envolta por centenas de anjos, enfeitava o teto.
Ela, sem nem mesmo reparar em nada daquilo, dirigiu-se para uma pequena bacia, ao lado do portal, cheia de água benta. Desembainhou a faca que roubara do Arsenal e olhou-a por uns momentos, à luz da lua. Era uma Wakizashi, na verdade. Uma espada curta, antes usada por samurais. Sua empunhadura era simples: feita de couro com um pequeno rubi incrustado. A luz batia-lhe com ternura, acariciando a superfície lisa como gelo. Mas, por trás disso, como um fantasma escarlate do passado sombrio, percebia-se pequenas manchas de sangue seco. Sem mais hesitação, ele mergulhou a lâmina na água abençoada. Por uma pulsação, sujeira e sangue saíram do metal e ficaram na superfície da água, mas no segundo seguinte já não mais existiam, manchas impuras por sobre a limpeza da água. Quando retirada, a lâmina brilhava ainda mais, como se nunca tivesse sido usada. A mulher sorriu desdenhosamente e molhou também as pontas das flechas que roubara. Precisou caminhar mais algumas dezenas de metros para chegar à beira da floresta, seu destino. Seu objetivo era arranjar algum animal para sacrificar.
A luz do sol que já raiava enchia os caminhos de luz avermelhada quando passava pelas folhas das árvores, velhas e nodosas que traziam consigo as marcas dos muitos anos desde que haviam sido plantadas, como jardim, a volta da casa do oleiro Kobayashi. Uma sensação de extrema felicidade invadiu-a quando começou a caminhar pelas trilhas apagadas e cheias de mato. Não precisaria de armas, de roupas, de nada que os invasores pudessem usar para andar por aquelas trilhas, por entre aquelas árvores, velhas amigas de aventura e antigos esconderijos dos caçadores e das armas que traziam consigo. Valer-se-ia de suas presas e de sua astúcia. Era apenas a decisão de pular para o chão, já metamorfoseada, livre de tudo e matar. Estraçalhar e matar, até que o sangue lhe enchesse a boca e sua presa não mais pudesse respirar, seus olhos fitassem o vazio inutilmente, sem nada vislumbrar. Mas o ritual tinha que proceder conforme o planejado. Pediu permissão para um bordo japonês para prender a faca em sua casca. Essa era uma habilidade comum de sua raça. Falar com a natureza: animais e plantas, sem exceção, entendiam-nos e eram entendidos. Ouviu-se um rumor carregado pela brisa morna da manhã que já surgia e ela compreendeu-o. Sentiu-se feliz de se livrar do peso que aquela faca cerimonial lhe impunha. E não somente no peso literal que ela estava pensando. Sem demora, fincou-a. Deixou ali também suas botas de sola grossa e bico de aço. Caminhou sorrateira, agachada, por entre as plantas rasteiras e sentiu as folhas vermelho alaranjadas do bordo sob seus pés. Sem fazer nenhum barulho ela andou pelas redondezas, o arco preparado. Não teve, porém, que andar muito para encontrar sua oferenda: Alguns metros adiante, na trilha estreita, um filhote de antílope brincava por entre as raízes das árvores. Ela colocou uma flecha no cordel do arco e mirou-a cuidadosamente no baixo ventre do animal. A flecha atravessou-o sem mata-lo. Ele esperneou. Se continuasse assim, logo a mãe dele apareceria. A caçadora andou três ou quatro metros até sua faca e arrancou-a, sussurrando para a casca algum pedido de desculpas, na língua das árvores.
Numa sátira ao Deus cristão, gritou:
- Ele providenciará! – Cortou a garganta do animal. Um segundo depois, uma pequena esfera brilhante saiu da boca dele. Começou a se dispersar, mas parecia estar sendo puxada para a faca. Um trovão ressoou. O vento parou de soprar. A volta dela, tudo pareceu ficar em preto e branco. A caçadora virou a cabeça rapidamente para trás. Um vulto se aproximava. Tinha os cabelos cor-de-chocolate, olhos azuis e pele azeitonada. Vestia-se com roupas escuras, que pareciam se mesclar com as trevas que se aninhavam debaixo das árvores. Trazia um cetro prateado extremamente detalhado, na mão esquerda: tinha a forma de galhos espinhosos enrolados e, no topo, havia uma rosa vermelho-sangue, aberta em todo o seu esplendor. Em sua mão direita carregava uma foice enorme e curva, sua lâmina estava cravada sobre um cabo de quase dois metros, extremamente escuro. Em seu peito brilhava um brasão: uma caveira prateada com uma rosa vermelha na boca. Ele se aproximou dela, movendo-se, aparentemente, sem tocar o chão. E sorriu. Um escárnio cruel. Ela se ajoelhou.
- Eu ofereço meus serviços. – Disse ela, formal e solenemente.
- Prove. – Ele ordenou. Pegou o cetro por baixo e colocou os olhos de rubi da caveira bem em frente aos olhos da mulher. Ela olhou-os, soltou um suspiro e caiu.

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Capitulo 05:


Quando Globos de Neve se Tornam Maus:

- Izion. Eu devia saber que ele fazia parte d’A Tropa.
- O que?
- Nada. – Respondeu o asiático.
- Tem certeza que ele não tá morto? – Perguntou Lux, preocupado. Abaixando-se, pegou o enorme rubi no chão. Dentro dele, algum líquido parecia estar se movendo.
- Tenho, - Respondeu Yuki, por fim. - A aura dele ainda ‘tá aqui. – Ele começou a transformar a aura, agora gasosa, em algo líquido. – Se eu não puder reincorporar isso nele. – Ele apontou as poças de líquido negro em que estava acumulado todo o poder daquele homem. – Ele morre.
- E - Lux coçou a cabeça, confuso - O que está esperando?
Yuki olhou para o amigo por alguns segundos antes de entender realmente o que ele tinha dito. Talvez ele pensasse que Lux tomaria a frente. Entretanto, Lux estava amedrontado demais até para sentar-se: caminhava por toda a extensão do quarto. Os olhos de Yuki brilharam por um momento, como se acabasse de perceber o que deveria fazer e então, correu para perto do homem caído e, com ajuda de Lux virou-o de cara para o teto. O asiático arrancou a bolsa das costas e começou a tirar coisas de dentro dela: três saquinhos de veludo de cores diferentes, uma faca de uns 15 cm, de ouro, um daqueles globos do professor Izion (que Yuki deixara cair “sem querer” dentro de seu bolso durante a aula) e um vidro transparente cheio com um estranho óleo alaranjado. Lux lançou lhe um olhar interrogativo, mas nada disse. Yuki se aproximou, então, do corpo do homem e se sentou no chão, ao lado dele. Do primeiro saquinho, vermelho-sangue, ele retirou quatro pedras esféricas, achatadas nos extremos. Alinhou-as com os pontos cardeais e, ligou-as com uma trilha de chifre de unicórnio moído, vindo do saquinho verde. Quando o circulo, que tinha aproximadamente o tamanho de um aro de basquete, foi finalizado, brilhou brevemente em luz azul, demonstrando que estava unido. Misturou então o mesmo pó com um pouco do óleo e, com aquela massa, fez uma escultura em forma de um gato.
- que o pó lhe seja como carne e o óleo como sangue. que a prata lhe seja alma. – Murmurou e, levantando a escultura, prendeu em seu peito um pingente de prata que tirara do pescoço. A estátua se moveu, como um filhote de gato real. Sua pele era cor de terra agora, meio transparente. Yuki abriu então os dois saquinhos restantes. Num havia pó de carvão e, no outro, uma pasta de ervas medicinais. Com o pó de carvão, desenhou dois ideogramas na testa do homem: 健康, “saúde”.
Pôs então a pasta de ervas sobre o peito do homem e virou-se para o gato. Ele miava insistentemente para os vasos de planta quebrados. Pegou o gato numa mão e virou-o de barriga para cima. Lá, como uma cicatriz, havia uma marca: o ponto onde a estátua juntava-se à energia vital que Yuki lhe dera. A mão livre do garoto foi até a faca de ouro e segurou-a. Murmurou então “Incarcero” e a lâmina pareceu perder um pouco do brilho dourado. Como se soubesse o que viria a seguir, o animal começou a espernear nas mãos do jovem. Este iniciou uma incisão na barriga do mesmo, usando a cicatriz como guia. O corte foi rápido e preciso. Aos poucos, a pele do animal foi tornando-se branco-acinzentada e brilhante. O gato ainda soltou um ultimo miado antes de se tornar novamente estátua. A faca agora brilhava verde.
Uma aura não pode ser inserida em alguém totalmente sem. – Disse, com urgência, o asiático. – Passe um pouco de aura para o globo enquanto segura a faca. – Yuki então, com as mãos tremendo, enfiou a faca de ouro bem no meio do tórax do homem.
Lux deu um grito estrangulado. – O que você pensa que…
- Essa faca não pode ferir, é apenas cerimonial. Mas vai deixar uma cicatriz. – Yuki, murmurou então a palavra de liberação, com a mão sobre o punho da espada. – dimitte. – A luz verde desceu pela espada e sumiu, absorvida pelo corpo do homem. – Vamos. – Disse finalmente.
Lux assentiu e pôs uma mão sobre a faca. - Tem certeza que eu não vou morrer, não é? – Lux olhou o asiático com descrença. Yuki revirou os olhos e murmurou algo como “provavelmente desmaiar”, dando a Lux o globo de vidro. Ao toque do garoto, a paisagem floresceu como se o Velocino de Ouro estivesse depositado ali. O garoto sorriu temeroso. Apertando com mais força o globo de vidro (do tamanho de uma bola de tênis), ele urrou. Um raio de energia verde circulava seu braço inteiro, ligando-o à esfera. Ele gritava, como se cada célula de seu corpo estivesse em brasa e emanava uma estranha aura branca. O globo de vidro mudava de cor a cada segundo: Azul, amarelo, vermelho, branco e então preto. Sempre nessa ordem. Os olhos do garoto viraram nas órbitas que logo sumiram, dando lugar à luz.
- Eu não acho que deveria ser tão forte assim! – Gritou Yuki, por cima do alto som de sucção que o globo produzia. Ele avançou para o globo, com uma expressão de intenso terror no rosto. Quando quase tocava no globo, ouviu uma voz grave, atrás de si.
 - Não seja idiota, garoto. Toque nisso e você morrera junto com ele. – O professor Izion tentava sentar-se mas, como Lux continuava com a mão sobre o punho da faca, isso era impossível. Ele estava extremamente pálido e com a face cansada. – Chame-o. – Ele ordenou. Yuki olhou-o com descrença. – Chame-o, agora! Diga seu nome três vezes.
Yuki não contestou. - Lux! – O garoto, que agora flutuava a alguns centímetros do chão pareceu ter levado um murro. – Lux! – Outro baque e ele voltou ao chão. – Lux! - Os olhos do garoto ruivo se abriram, ainda brilhando com uma luz anormal. Era possível distinguir as pupilas, e sua face estava estranhamente calma.
Semper, repita minhas palavras: dividamos poder. Unamos alma, unamos ser. – O professor gritava, tentando ser ouvido em meio ao barulho.
- Dividamos poder. Unamos alma, unamos ser. – A voz de Lux soava terrivelmente estranha, como se viesse de um lugar longínquo. O globo começou a mudar de cor mais rapidamente. Lux sentiu-se mais leve e a aura branca a sua volta brilhou mais. Então, tão rapidamente quanto veio, a luz se foi.

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Capitulo 04:


“Um lobo pode perder os dentes, porém sua natureza jamais”:

- Calma, calma. – Disse o ruivo, dando um passo para trás, tropeçando em uma cadeira e caindo sentado. – Tran-transformar-se em animais com menor massa que um humano é… Impossível para vampiros!
- Erm… Eu posso explicar… – O garoto disse e voltou a ser humano com um baque, mantendo ainda orelhas felinas e um rabo felpudo. - Tem um feitiço que eu achei aqui na biblioteca que faz com que possamos… Burlar essa regra… – Ele sorriu, incerto. Lux continuou sem acreditar.
- Ah, é? Legal… – Suas palavras estavam carregadas de descrença. Levantara-se e agora, como um predador, circulava Yuki. Provavelmente inconscientemente, deixava o asiático nervoso. – Me ensine.
- E-eu esqueci. – O garoto olhou para o chão. Lux tirou a mochila das costas e a colocou numa mesa atulhada de livros. Sentou-se ao lado e começou a vasculha-la.
- O que está fazendo?
- Grimório… - Murmurou Lux, sem se virar. Finalmente, encontrou o que queria. Tirou da mochila um livro de bolso e abriu-o na primeira pagina. – Neko.  – Disse, tentando imitar perfeitamente a pronuncia que Yuki utilizara. – Quaero! – Ordenou para o livro. As páginas começaram do mesmo começaram à virar uma atrás da outra. E por fim, o livro ficou fechado.  - Vampiros não são só elementais. Podemos também fazer qualquer outro tipo de magica, com algum esforço. Os magos retratados em histórias antigas são, na maioria das vezes, vampiros ou descendentes. Apenas somos melhores com elementos da natureza.
- Nada contra, mas… – Yuki concedeu-se aproximar-se um pouco mais. – Porque está me dizendo isso?
- Eu procurei, - Ele se levantou e começou a andar pela sala. - E não encontrei nenhuma magia no grimório com a palavra “Neko”. - Ele encarou Yuki. – E minha família é muito antiga. Quase todos os feitiços possíveis estão anotados aí.
- E se eu, hipoteticamente, não fosse um vampiro?
- Hipoteticamente?
- Hipoteticamente. – Yuki concordou. – Se, hipoteticamente, eu fosse algum tipo de refugiado que só quer aprender um pouco mais sobre meus próprios poderes?
- Então, hipoteticamente, eu teria que te matar. - Disse uma voz conhecida, vinda do corredor.
Yuki deu um enorme pulo para trás e sacou algum tipo de lâmina, muito curta para uma espada, muito longa para uma faca. algo entrara na sala: Tinha pelo menos dois metros e forma canina, andava nas quatro patas e era feito de uma matéria extremamente escura. No centro daquilo tudo, jazia o corpo de um homem indistinto, que parecia guiar o monstro por dentro. Uma enorme pedra vermelha estava cravada no meio de sua testa.
- Porque está fazendo isso? - Gritou Lux, enquanto, sutilmente, fazia que uma planta, de um vaso que o monstro derrubara no chão, crescesse e se enrolasse nas pernas do monstro. Ele era bem sólido, como se as trevas fossem uma armadura.
- Tenho que eliminar os inimigos, ordens do Capitão Cronos. - Ele disse apenas, com uma voz carregada de certeza. A planta cresceu mais e mais e agora já alcançava sua barriga.
- Eu não sou um inimigo! – Gritou de volta Yuki. - Eu só quero melhorar com meus poderes!
- Qualquer Youkai deve ser eliminado sem clemência, essa é a lei. - Ele levantou sua mão e ali apareceram grandes garras feitas de treva. Elas eram curvadas, como as de um lobo, e tinham o tamanho de facas.
Yuki murmurou algo como “Se você quer assim” e o monstro correu para frente. Ou pelo menos tentou. Sem perceber que estava preso, caiu como uma criança com os cadarços amarrados.
Yuki jogou uma esfera flamejante azul, do tamanho de uma bola de golfe, nas costas do monstro. Ela aderiu aos “pelos” dele como se fosse chiclete e começou a se espalhar, lentamente.
O ruivo concentrou-se e criou espinhos no caule da planta, fazendo o monstro urrar de dor. A aura de trevas que lhe cercava ficou mais fraca por um instante, mas ele cortou as amarras e ficou livre. Yuki aproveitou-se do momento de distração do inimigo para tentar enfiar sua adaga (era esse o nome daquela arma) bem no peito do lobo. E teria conseguido se Lux não o tivesse detido com um cipó.
- É melhor a gente só imobiliza-lo. Parece que, quem quer que seja, está sob um feitiço ou algo assim.
- Não foi minha intenção… – Respondeu Yuki, sem jeito. - Eu só estava me protegendo!
Lux retomou suas plantas. Ele trançou três grossos cipós com agilidade e colocou-os para lutar contra o lobo, de um jeito meio ofídico. – Algum plano?
- Eu estou tentando congelá-lo. – Resumiu Yuki, apontando para o fogo congelante por sobre o “pelo” do animal. Já não era uma bola de golfe: cobria a parte traseira da criatura inteira. Ele avançou mais uma vez. As garras do animal foram combatidas pela adaga de Yuki. Quando ele tentou usar suas presas, ganhou uma focinheira de cipós, cortesia de Lux. Juntos, eles eram uma equipe forte. Aos poucos, a área congelada da aura do monstro ficava maior. Numa ultima tentativa de se libertar da prisão gelada, o lobo uivou. Não, não era um uivo. Era um sopro. Um sopro de fogo. O gelo não cedia. A cada centímetro de gelo derretido, dois congelavam.
O fogo começou a fraquejar. Ao invés de aproveitar-se da distração do lobo, os garotos esperaram, quietos, que o gelo tomasse conta da aura negra. O gelo chegou ao pescoço negro da criatura. Sem poder mais derreter o gelo, o lobo uivou ainda mais alto. Um uivo alto e grave, um uivo de dor real. Virou-se para os garotos e, com um ultimo olhar rancoroso, desmaiou. Yuki sublimou a aura congelada e o corpo inerte do homem caiu no chão.
- Esse cara ele parece c-com o…

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Capitulo 03:


A Harmonia (Quase) Perfeita:

O sol apareceu. A manhã já estava batendo na janela do quarto 379 e os garotos pareceram ter sentido isso ao mesmo tempo. Lux sentou-se na cama e esfregou os olhos. Pegou um travesseiro e, vendo que Meddy nem se movera, jogou-o no rosto do garoto. Este só rolou para mais perto da parede e murmurou algo sobre a primeira aula dele ser vaga. Mal Lux olhou para o banheiro, Yuki pulou da cama com toalha e xampu na mão e se dirigiu para o único Box. O ruivo resolveu arrumar suas coisas. Abriu sua mochila e nela colocou os livros de apoio, cadernos e canetas, o grimório (que era de sua família a gerações). Guardou lá também suas joias mágicas e algumas roupas extras. Yuki saiu do banheiro. O outro garoto pegou suas roupas: a camisa uniforme da escola (Uma camisa preta com “Academia Luz-Negra” escrito em letras garrafais, em branco), sua jaqueta de couro, uma calça jeans preta surrada e seu par de all-stars. Correu para o banheiro antes que alguém pudesse tomar sua frente novamente e tomou um banho de dez minutos. Quando saiu, Yuki lhe esperava encostado no portal.
- Vamo’ logo, Senhor Estiloso. – Ele arrastou o R. Lux assentiu e eles saíram do dormitório.
Andaram pelos longos corredores de pedra e finalmente chegaram à sala do professor Charles Izion, que dava aulas de Elementalidade. A sala estava muito maior do que eles se lembravam, do dia anterior: Seu teto agora era alto e reto, sem nenhuma rachadura. O piso era de mármore e as paredes eram brancas.
Maravilhados, sentaram-se na frente da sala, ao lado da porta. Quando olharam para frente, porém, encontraram algo nas mesas que intrigou-lhes: dois globos de vidro, parecidos com aqueles que se vende em lojas de quinquilharias. Dentro de um, que estava em frente à Lux, havia uma paisagem desértica e no que estava em frente à Yuki, um vulcão em erupção. Eles mal tiveram tempo de examinar aquelas coisas antes que o professor entrasse na sala pisando pesadamente, com enormes coturnos pretos. Ele estava vestido praticamente com as mesmas roupas do dia anterior: Jaqueta de couro, com uma camisa por baixo (que, diferente da do dia anterior, era azul). Ele andou até sua mesa, bem à frente de todos os alunos e de costas para a lousa, e sentou-se.
- Sabem o que é isso? – Disse, pegando um dos globos. Ninguém respondeu, alguns acenaram a cabeça, negativamente. – Isso, - Começou ele, jogando o globo no ar e dando uma risada baixa, como se estivesse lembrando-se de tempos passados. – É um globo de elemento. Um cofre, talvez. Toquem nos seus. – Ele ordenou, pondo os pés sobre a mesa. Todos obedeceram. Lux pegou a sua paisagem deserta, e ela se transformou em um enorme campo florido. Yuki, ao lado, se surpreendeu em ver que todo o vulcão e o magma se transformaram numa paisagem gelada. – E então? Já descobriram fazem? – Perguntou o professor, trazendo todos de volta para a realidade.
- Ela muda de paisagem conforme o elemento de quem tocá-la? -Yuki arriscou.
- Quase isso. – Disse o professor, visivelmente admirado pela resposta. – Eles capturam seu elemento. Mudar a paisagem é só uma qualidade estética. Eles servem para se carregar elemento extra para alguma missão ou para que um vampiro possa usar algum elemento que não seja o seu. Além disso, também servem para descobrir seu elemen… – Ele foi interrompido pela mão levantada de Lux. Ele pareceu um pouco aborrecido mas lhe permitiu fazer a pergunta com um aceno de mão.
- O que acontece se algum deles for destruído? – Murmúrios de interesse percorreram a sala.
- Bom, - O professor se levantou e começou a andar pela sala, o som de suas botas de couro provavelmente era audível na lanchonete. – Digamos que se o seu explodisse agora, seu amigo Yuki iria se transformar num belo carvalho, numa figueira, se tiver sorte. – Algumas pessoas riram e o clima na sala abrandou.
- Acho que você viraria um cubo de gelo se o meu quebrasse. – Yuki disse, os dois riram juntos.
O resto da aula transcorreu normalmente, com o professor ensinando o método mais adequado de armazenar o elemento e como criar um daqueles globos. Mas, é claro, eles acabaram ficando muito entediados com todos aqueles dados. Quando finalmente a aula acabou, eles foram por um túnel reto até a aula de numerologia e simbologia. Yuki desviou-se por um túnel lateral dizendo:
- Eu não quero ir! – Ele disse, mais alto do que seria prudente. - O professor de numerologia me odeia.
- OK, a gente fica no quarto até bater o sinal e… - Mas Lux foi puxado, junto com Yuki, para dentro da sala pelo professor de numerologia, Carl. Eles foram jogados nas carteiras mais perto do professor e foram supervisionados todo o tempo.
- Isso é horrível. – Sussurrou Yuki, abrindo a mochila e pegando o livro de numerologia.

“E o sábio contava que, nos seus estudos, quando ainda era um pobre observador do universo, descobrira que o número 12 comandava os destinos, dele e de toda a humanidade. Doze era o número da harmonia. do equilíbrio da condição humana com a geografia terrestre e os níveis cósmicos. Eram os quatro pontos cardeais multiplicados pelas três dimensões de deus. Os quatro elementos — Terra, Água, Fogo e Ar — multiplicados pelos três princípios básicos da alquimia: Enxofre, Sal e Mercúrio. Os 12 sinais do zodíaco. Os 12 meses lunares que completam o ciclo da terra em torno do sol. Doze vezes cinco dá 60, o número de anos que leva para os ciclos lunares e solares coincidirem. E o sábio contava que, nos seus estudos de intelectual miserável, descobrira que eram 12 as portas do templo do céu pelas quais o imperador da china tinha que passar para assegurar um ano bom para os seus súditos. Doze eram as portas de Jerusalém, 12 as tribos de Israel, 12 os apóstolos de cristo, 12 os cavaleiros da távola redonda do rei Artur. No gênesis, a árvore da vida dá 12 frutos. No livro das revelações, a mulher que aparece vestida de sol traz na cabeça uma coroa com 12 estrelas.”

- Espera, - Falou Lux. O professor suspirou, desanimado. - Isso não é um trecho de um conto do Luís Fernando Veríssimo? - Perguntou, ouviram-se murmúrios em concordância.
- Onde ele quer chegar? – Perguntou Yuki, impaciente. – Porque estamos lendo um livro de contos numa aula de numerologia? Isso é literatura humana!
- É, é sim um trecho de um conto do Veríssimo. Mas, sem saber, ele escreveu sobre nós, os vampiros. – Disse o professor, de mau humor. Yuki rolava os olhos. - 12 caminhos para um vampiro: Fogo, Água, Luz, Trevas, Paz, Guerra, Caos, Terra, Ar, Sabedoria, Planta e Gelo. – O professor enumerou, alguns alunos contavam para ter certeza. - Entendeu moleque intrometido? - Disse o professor, fuzilando Yuki com o olhar.
- S-sim senhor. - Yuki se encolheu na carteira como um gatinho assustado.
O professor começou a explicar como a harmonia dos 12 era perfeita e que…
- Professor, contando com Jesus, não seriam treze pessoas na ceia? -Disse um garoto, do canto da sala. O rosto do professor se escureceu.
- Bakae. – Yuki disse, mostrando sua descendência japonesa. - Existe o 13º, a mistura dos dois poderes que pode reger os outros 12. – E então sussurrou para Lux - Li isso no antigo livro da biblioteca na área proibida.
Lux começou a falar:

“A árvore de que nascem os frutos, doces como o mel
o imperador que passa pelas portas do céu.
A coroa que abriga os astros,
a terra, que fica entre os ciclos, seguindo seus rastros.
O rei que comanda a tabula dos cavaleiros,
Deus que rege das tribos os herdeiros.
O planeta que rege os signos, que equivalem
às doze portas de Jerusalém”

- Coincidentemente, 13 é o número do azar para os ocidentais. – Yuki comentou. O professor lhes olhou com raiva.
- Saiam da minha sala. Agora! - Ele apontou a porta. Os garotos riram e o professor os empurrou porta a fora. Acabaram no corredor vazio, entre os armários dos alunos.
- Aquilo que eu disse. - Começou Lux - Eu ouvia aquela poesia da minha mãe. – Explicou. – Mas, eu nunca tinha ouvido sobre algo maior que os doze elementos. Como isso é possível? - Perguntou, atônito. - E, por que os professores não gostam que ninguém saiba sobre isso?
- Cara essa escola é esquisita – Disse Yuki, meio distraído. - Eu não entendo os vampiros.
- Como assim “eu não entendo os vampiros”? Você é um vampiro! – Contestou Lux.
- É- é claro eu sou um vampiro tipo, Rawr, sangue e etc. – Falou Yuki, mordendo o ar.
- Cara, - Disse o outro, rindo - Você é esquisito. – Yuki riu com ele e fez uma cara de “Cara, eu nasci assim”. Lux, rindo e socando o braço de Yuki, pergunta: - E agora, o que fazemos? – Olhou então, em volta, à procura de algum professor ou aluno, mas não encontra ninguém.
- Esquisito – Comentou Yuki. - Devia ter mais gente aqui. Os alunos do primeiro ano deviam estar no intervalo, não?
- Deveriam… - Lux corre para frente da sala de Selos, onde provavelmente estaria o primeiro ano. - Eles estão aqui. Porque será que não estão no intervalo? – Yuki deu de ombros. - Vamos aproveitar isso. – Lux apontou uma placa que indicava o caminho para a biblioteca. Yuki assentiu. Ao chegar ao seu destino, eles veem uma senhora alta com óculos quadrados arrumando alguns livros nas estantes. Lux puxa Yuki para trás de uma estante de livros de história. Ele então coloca um colar no pescoço de Yuki e aperta o pingente. O garoto estava invisível. Segundos depois de colocar um colar também, Lux também não estava mais lá. Pelo menos não parecia estar.
- Quer entrar na sessão proibida? – Perguntou a voz de Lux, que provavelmente estava rindo.
Yuki tirou o colar e devolveu-o à Lux, que ficou sem entender nada. “Eu não preciso disso…” – Murmurou Yuki e saiu da vista de Lux, indo para trás de outra estante. Um som estranho saiu de lá. Lux, sem nada entender, seguiu para dentro da área proibida da biblioteca, liberada apenas para professores. Ele seguiu pelo portal de pedra e entrou numa enorme câmara que parecia uma enorme caverna: grandes paredes de pedra, teto alto abobadado aberto no centro, diretamente para o infinito. Tirando o colar-de-sumiço, sentou-se numa cadeira de mogno. Yuki apareceu atrás dele, rindo.
- Oi!  - Yuki gritou. Lux pulou para frente e se escondeu nas sombras, então, percebendo que era Yuki, teve vontade de transformá-lo realmente numa figueira.
- Muito engraçado, Sr. Mimineko… – Disse ele, vindo em direção ao amigo. Olhando em volta, perguntou, confuso. – Por onde começamos?
- Na ultima prateleira, - Yuki respondeu. - Um livro preto com afrescos dourados. - Lux se dirigiu a uma prateleira com uma placa com escritos de bronze descascados. Não era muito legível, mas dizia algo como “Elementos: A Teoria e a Prática”. Procurou entre os vários livros até encontrar o certo. Quando o achou, colocou-o por sobre uma mesa, com algum esforço, e fez um aceno de mão para Yuki. - Faz as honras? – Perguntou, Yuki fez que não com a cabeça. “Já li ele todo…” Disse ele, baixinho. Lux encarou-o, descrente, mas abriu o livro na primeira página. – “Prólogo:” - Leu em voz alta. – “Os elementos são a força dos vampiros. Cada elemento vem do seu primeiro dominador. Eram quatorze dominadores ao todo, cada um deles conhecido por uma letra.
Atualmente, dois dos caminhos deixaram de ser aprendidos ou estudados: Morte e Vida. Neste livro, está todo o conhecimento sobre os catorze dominadores originais. ATENÇÃO: Esse livro possui uma grande força de atração e tentação. Que esse livro cheio de poder seja guardado e bem cuidado pelos séculos dos séculos…” A folha ta censurada. - Disse Lux, mostrando que o resto da folha. Ele correu os olhos pelas outras folhas e viu que elas também estavam pintadas com tinta preta. Não era mais possível ler nada. - Alguém soube que você leu isso, Yuki. - Lux recolocou o livro no lugar. Yuki olhou-o com espanto. - Alguém viu você aqui? - Perguntou, agora um pouco preocupado
- Não sei. – Yuki olhou em volta. - Talvez esteja nos vendo agora.
 - Cara, assim você me deixa muito confiante. - Disse Lux, com ironia. - Bom, - Ele se levantou. - Vamos para o dormitório? As aulas já devem estar acabando a essa hora.
- Claro. – O outro garoto assentiu e dirigiu-se para trás de uma estante. Curioso, Lux coloca o Colar-de-Sumiço e o segue. Yuki estava simplesmente parado ali, com os olhos fechados, concentrado. Lux ficou ali, tentado à simplesmente seguir seu caminho, quando uma nevoa prateada começou a se desprender de Yuki. Ele continuava de olhos fechados. Os lábios do garoto se mexeram, murmurando uma palavra: “neko”. A névoa envolveu-o. Através dela, podia-se ainda vislumbrar a sombra do rapaz, entretanto. Mas ela começou à mudar: diminuiu, rapidamente, se encurvando. Ele estava se transformando em um… Gato?

domingo, 11 de novembro de 2012

Capitulo 02:


No Estilo:

O vulto do professor apareceu entre as chamas. Entrecortada na fumaça, sua forma era realmente assustadora e, talvez por isso, os alunos continuaram a não se mover, depois de removida a barreira. O sorriso que ele ostentava era de pura felicidade, o que ninguém compreendia. Ele voltou até a sala de aula e pôs o garoto sobre uma carteira. Indo até sua mesa, buscou algo numa das gavetas.

 - Professor… – Começou, timidamente, uma garota loira. – O que aconteceu com ele? – Ela enfatizou a ultima palavra, apontando o corpo inerte de Lux com a cabeça.

 - Nada. – Respondeu o professor, displicente. – Isso é normal. Muito poder… Realmente muito poder. Ele apenas perdeu a consciência e o poder tomou conta de seu corpo. Isso é normal em vampiros iniciantes. – Apesar disso, o professor parecia ligeiramente intrigado com alguma coisa. Aproximando-se do garoto, o professor deixou-o ereto e virou uma lata de Coca-Cola na boca do garoto. – O açúcar vai acordá-lo. – Respondeu ele, aos olhares indagadores. Lux se mexeu. Abrindo os olhos, devagar, a sala começou a entrar em foco. Sem entender como viera parar ali e o porquê de o professor estar todo chamuscado e arranhado, ele abriu a boca para falar… E foi cortado friamente. - Garoto você é uma pessoa de sorte! Você controla as plantas: Um dos mais raros e poderosos elementos.

 - E o que ele tem de especial, professor? – Perguntou o garoto. Para uma pessoa de sorte ele se sentia muito dolorido.

 - Ele é um elemento secundário e, só por isso, já seria raro. – Agora o professor já não parecia mais intrigado, mas levemente… Decepcionado? - Mas, o elemento planta é um dos elementos mais poderosos porque pode controlar quase tudo à sua volta. - O sino tocou finalizando a aula bem neste momento. Lux sai ainda mais curioso do que estava antes. Sem olhar pra frente, imerso em pensamentos, acabou trombando com alguém. Percebeu que era a garota que observara quando entrou na sala mais cedo.

 - Oi… – Disse ele, sem jeito.

 - Oi. Sou Sakura. Você sabia que sua camisa está do avesso? – Disse ela, muito rápido. Lux olhou para baixo, sem jeito. Sua camiseta estava realmente do avesso.

 - Sou Lux. E isso é, hã, um estilo novo que eu estou pensando em usar. – Retrucou rápido, e depois quase se bateu: Porque tinha dito algo tão estúpido?

 - Ah… – Agora ela parecia estar seriamente fazendo força pra não rir. – Muito legal. Bom, hã, eu tenho que ir, Aula de Selos agora e, se eu me atrasar, a professora Carmem me mata… – Então ela sumiu pelos corredores, antes mesmo que ele pudesse responder.       

- Não se anime muito, têm muitos caras de olho nela. – Ele ouviu uma voz e, virando-se, viu o garoto de traços asiáticos, ao lado de quem se sentara na aula.

 - O quê? Eu não gosto dela…

 - Ah, o quê? – Ele fingiu assombro. - Você pensou que eu tinha dito isso? Na verdade, eu quis dizer que você tá apaixonado, não só que gosta dela. – Lux desviou o olhar do garoto e fitou a janela, sem interesse.

 - Quem é você? – Ele usou o tom mais autoritário que pode, mas não era tão bom nisso quanto o professor Izion.

 - Seu colega de quarto – Respondeu ele –, Nyuki Mimineko. – Entendimento perpassou a face de Lux. Murmurou ainda um “Eu não gosto dela…” antes de correr para caminhar ao lado de Yuki.

 - Nossa aula agora é de… – Ele olhou o horário na capa do caderno. – Autocontrole… Vamo’?

 - Bora, Sr. Estiloso – Lux olhou feio para Yuki. E o outro retribuiu com um olhar de riso. – A propósito, ‘cê ta com bafo. – Ele esticou uma caixinha de Tic Tac’s Menta para o outro que pegou algumas e jogou na boca, murmurando frases soltas como “Acordei atrasado” e “Esqueci de escovar” além de, é claro, “Será que ela percebeu?”


***

 Os garotos voltaram pelo corredor, conversando. Para o primeiro dia de aula do ano, foi dureza. A professora Carla os fizera escolher, entre dois copos, a água pura, em vez da benta. Depois, para testar, teriam que jogar a água na pele. No caso de escolherem a água benta sem querer, eles deveriam continuar normalmente, sem mostrar a dor que realmente sentiam. O segredo, disse a professora, no final da aula, é perceber um sutil brilho anormal na água.

- O problema, - Desabafou Lux, quando chegaram à porta do quarto que lhes cabia. – É que os dois copos estavam brilhado! – Então ele parou de chofre, percebendo que alguém estava lá dentro. E o mais estranho: quem quer que fosse estava dormindo num beliche que com certeza não estava lá antes. Era um garoto, parecia ser mais novo que os dois, talvez uns dois ou três anos, tinha olhos castanho-escuros e cabelos muito negros que contrastavam com sua pele branca. Era alguns centímetros mais baixo que eles e dormia como uma pedra

- Cara, acorda! – Yuki chacoalhou o garoto com violência. – O que está fazendo aqui? Quem é você?

- Sou Meddy, Meddy Pulch. – Disse o estranho, levantando-se - Ninguém avisou? Sou seu novo colega de quarto.

- Não são só dois por dormitório? – Perguntou Lux.

- É, mas… – Ele começou, devagar. - Abriram uma exceção pra mim.

- Porque? – Contrapôs Yuki, ainda parecendo meio tenso. Tenso até demais para aquela situação.

- Me descobriram no lado humano da escola… – Começou ele.

- Ah, - Yuki deu uma risada meio forçada. – Saquei. Então… Bem-vindo ao lar?

- Claro. – Meddy e Yuki trocaram um olhar significativo, mas Lux não pareceu perceber.

- Ah… Ta! – Lux disse, tirando os olhos da janela, onde Sakura acabara de passar com algumas amigas. – Vou me deitar um pouco, me acordem amanhã cedo para a escola. – Falou, indo em direção à cama com um olhar sonhador.

 - Boa noite, parceiro.

 - Boa noite, Sr. Estiloso! – Disse Yuki, rindo alto.

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Capitulo 01:


Fantasmas:

O que uma dúzia de garotos estaria fazendo caminhando àquela hora da noite na floresta que, diziam, era amaldiçoada e assombrada?
Poderia se pensar que eram fantasmas, pois, vestidos todos com roupas brancas e, pálidos, como se o negrume ao redor roubasse sua cor, pareciam sumir em meio ao cenário cheio de neve. Pareciam caminhar em direção a um enorme prédio escondido pela floresta: de um lado, era branco-perolado e brilhava, refletindo a luz da lua; do outro, era negro como carvão e contrastava com a neve que se acumulava sobre ele.
Ao chegarem ao final da trilha, correram todos em direção ao prédio. Entraram em um salão enorme, com as paredes prateadas, como se a cor dos dois lados do prédio se misturasse ali.
- …E sejam bem-vindos à Academia Luz-Negra. Eu sou a Profª.  Fernandez, sua diretora. – Uma mulher falava num palco à direita deles. Ela era alta, de cabelos muito vermelhos, presos num coque apertado. Usava um terninho com saia azul-escuro e sapatos de salto-alto. Quando eles entraram no auditório, ela sorriu e lhes apontou um lugar. – Bem-vindos, vampiros, ala oeste e não causem problemas! – Nenhum dos humanos pareceu perceber nada errado. - Ao chegarem a suas alas, vão ao mural e vejam qual é seu dormitório, seu companheiro de quarto e peguem suas chaves. – Ela olhou por cima da cabeça de todos e pousou, por um instante, o olhar numa parede sólida, do lado negro do salão. Uma porta de madeira se materializou ali. Ninguém, nem mesmo os vampiros, percebeu isso. - Podem ir. – Ela saltou do palco e andou calmamente até a frente do grupo recém-chegado. – Sigam-me. – Ela sussurrou para o grupo e eles obedeceram.
- Professora… – Começou um garoto ruivo de trás da longa fila, no mesmo tom de voz da diretora.
- O que? – Perguntou ela, olhando-o de alto a baixo.
- Porque nenhum dos humanos ligou quando nos chamou de vampiros? – Respondeu o garoto, rapidamente.
- Bom, Lux, – Ele notou que não havia dito seu nome a ela. – Porque, de fato, é isso que vocês são. A escola é dividida em duas. Isso, é claro, é para proteger os humanos. Entretanto, para eles, isso é só por conta dos times de futebol. O time da ala leste, dos humanos, tem como mascote o corvo. Coincidentemente, a ala oeste tem como mascote o vampiro.  – A professora deu um sorrisinho. O garoto olhou-a intrigado, mas nada disse.
Atravessaram outra porta e se perderam por longos corredores, a maioria com várias portas que provavelmente davam em mais corredores. Não havia nenhuma janela, entretanto.
Chegaram, então, ao mural de avisos.
Lux – O garoto ruivo – se aproximou dele, meio correndo, meio pulando, e se encolheu entre os ombros dos outros para ver. Seguiu com o indicador as linhas, até parar abruptamente ao encontrar seu nome. Ficaria no quarto 379, junto com, outro garoto, Nyuki Mimineko.
Olhando ao redor, ele pegou a chave que estava presa num gancho logo abaixo do mural, e saiu correndo em direção ao quarto. Ao chegar, olhou para todas aquelas malas ao lado da cama, e, com um aceno de recusa displicente, saltou para a cama e fechou os olhos. E então, depois do que lhe pareceu apenas um segundo, amanheceu.
Da janela a sua frente vinha uma luz vermelha e morna que, sem duvida, fazia sua vontade de sair da cama fraquejar. Virou sua cabeça devagar para a porta e olhou para o relógio acima dela. Sentiu como se o sangue em suas veias resolvesse, de uma hora pra outra, congelar e usar sua espinha como escorregador. Jogou as cobertas para o lado com violência e se levantou. Ainda olhando abismado para o relógio, ele correu até as malas e abriu-as com um chute. Tirou de lá algumas roupas desaparelhadas, cadernos, canetas, livros de estudo e jogou tudo em cima da cama meticulosamente arrumada de seu companheiro de quarto. Meteu uma camisa pela cabeça abaixo e, por cima dos tênis (que se esquecera de tirar antes de dormir), colocou uma calça surrada, jeans.
Correu pelos corredores em uma grande velocidade e, ao fazê-lo, pode perceber que, conforme se aproximava da sala, o corredor ficava mais antigo.
Chegou, finalmente e seus olhos imediatamente pousaram em uma garota loira, sentada na frente da turma. Todo e qualquer pensamento de se sentar foi varrido imediatamente de sua mente: ela era alta, talvez com um 1.70m e, quando se virou para ele, suas sobrancelhas finas se franziram e seus olhos verde-cintilantes como esmeraldas faiscaram em sua direção. Porém, antes que, abobado, Lux pudesse notar algo mais, ele percebeu um toque em seu ombro. Um homem alto, de cabelos negros bagunçados e grandes costeletas lhe olhava do alto, com um tom arrogante.
- Ei… – Ele puxou uma lista de nomes, presa a uma prancheta e olhou-a de esguelha - Semper, não é?
- Hã? Ah, sim.
- Poderia sentar-se? – Disse com uma voz ironicamente cordial, apontando com exuberância para uma cadeira, ao lado de um garoto asiático, três fileiras atrás da garota de olhos verdes.
- Cla-claro. – Respondeu, meio sem jeito, e sentou-se com a maior agilidade que a vergonha lhe permitiu.
- Bom, - O professor lançou um ultimo olhar fulminante ao garoto e, batendo as mãos, cobertas com grossas luvas de couro, continuou. - Eu sou o professor Izion e darei aulas de Elementalidade para vocês este a… – Um garoto levantara-se e o olhar do professor recaiu sobre ele. - O que diabos você quer? – Ele perguntou, impaciente. O garoto abriu a boca para responder, mas foi dispensado com um aceno de mãos do professor e se sentou, a contragosto. – Não quero interrupções em minha aula. Fui claro? – Alguns tímidos acenos de cabeça e murmúrios de aprovação pareceram ter bastado para ele, como resposta. - A elementalidade é a habilidade de controlar um ou mais elementos. Isso pode ser feito sozinho ou utilizando um Objeto de Poder, que é o mais comum. Todos os vampiros podem fazer isso, alguns sendo igualmente bons para todos os doze elementos, ou para alguns deles e, alguns, providos de habilidade de controlar apenas um. – O professor se sentou na cadeira, a frente da turma e colocou os pés sobre a mesa e apontou um poleiro de madeira, no canto da sala. Lá, piando calmamente, se encontrava um corvo negro que, Lux pensou, era pelo menos do tamanho de um cisne. Com um movimento de mão do professor, o corvo voou até a mesa. - Isso é um exemplo do que se pode fazer com o elemento trevas. – Disse ele, aos olhares curiosos.
- Professor, como descobrimos nosso elemento? – Lux levantou a mão, ansioso (estaria interrompendo a aula?).
- Fila indiana, aqui. – Disse o professor, apontando uma porta lateral na sala de aula e ignorando totalmente a pergunta dele. Lux hesitou por um momento. - Agora! – Ele observou o grande portal de pedra por um segundo e então, com um impulso, pulou para seu lugar na fila.
Entraram. O lugar era muito bem iluminado, com grandes janelas, abertas ao máximo. Doze cubos de vidro estavam espalhados no centro da sala, formando a letra grega delta. O professor parou abruptamente. Consequentemente, na fila, várias pessoas bateram nas costas do vizinho da frente. O homem olhou para trás e, depois de examinar cada rosto ali por alguns segundos, se dirigiu à Lux:
- Vá para o meio do Delta. – Sua voz autoritária não deixava espaço para hesitação. Lux passou por cinco ou seis colegas e chegou ao local indicado. – Feche os olhos. – A suavidade que o professor conseguiu empregar nessas três palavras foi um choque, mas ele obedeceu. As lamparinas a óleo presas no teto acenderam. – Concentre-se em se mexer, mas não se mova. – “Claaaro…” pensou Lux, “talvez aquelas costeletas estejam controlando o cérebro dele.” E se segurou para não rir. Então, ouviu um barulho. Um barulho de vidro quebrando. Mesmo que ele não visse, o fogo das lamparinas agora dançava, lambendo o chão e o teto. As plantas do cubo à sua esquerda pareciam loucas: se enroscavam como cobras. A água se agitava, congelando, evaporando e voltando ao normal em segundos.
Lux, ainda de olhos fechados, estava totalmente alheio ao que acontecia, apesar de que tinha a sensação de que precisava levantar seus braços. Não, não era uma sensação. Era um desejo forte, uma vontade irrefreável. Finalmente, cedeu. Jogou seus braços para o ar acima da cabeça, com violência. E tudo explodiu. O fogo subiu em grandes labaredas até o teto e as ramas e cipós bateram contra as paredes, criando enormes rachaduras. A água se multiplicou e, juntando-se ao ar, que antes ele mal se movera, criou um furacão que ensopou todos os presentes na sala, menos ele. Sem perceber, Lux flutuava no ar. Quando, finalmente, abriu os olhos, as pupilas haviam sumido, em meio a luz. Seu corpo desprendia uma aura perolada estranhamente etérea, incorpórea. O rosto do professor endureceu. Empurrou alguns alunos para o lado e, mirando no garoto com um grande anel de pedra negra (que estava em seu dedo médio), prendeu o corpo flutuante dentro de uma bolha de energia. Fúria transpareceu na face do enjaulado, seus olhos mancharam-se de vermelho-sangue e tudo explodiu novamente. O professor fez outra bolha, envolvendo os alunos, e pulou para junto do garoto. Os gritos de preocupação e indignação deles ecoaram pela sala. E então, silencio.

Capitulo 00:


Ares de Morte

Prefácio:

Aquela igreja devia ser realmente bonita quando ele chegou. Agora, porém, o estofamento dos bancos estava jogado pelo chão, havia madeira em pedaços por todo lado. O único lugar que o vampiro temera tocar (pelo que parecia) era a pia de água benta.  Naquele momento, porém, jazia deitado no chão. Então, como se finalmente tivesse tomado uma decisão, levantou-se e caminhou até o altar.
Lá, pegou um cálice de prata e virou-se em direção à água, cantarolando como uma criança que ganha um doce.
Parou em frente a pia batismal. Apoiou-se nas bordas e olhou seu reflexo na água pura. Algumas lágrimas caíram na superfície da água cristalina e misturaram-se ao líquido abençoado.

- Conseguiu, não é Raposa? Finalmente estou nos braços da Morte! - Ele gritou, para o vento. - Um brinde à Raposa
Dourada, eu proponho! Um brinde… - Ele encheu o cálice de água benta e tomou tudo de um só gole.

Aquilo desceu queimando por sua garganta. Destruindo tudo, como veneno. Caiu. Seus olhos viraram nas órbitas e seu corpo convulsionava. O barulho da prata batendo no chão de mármore foi a ultima coisa que ouviu antes de seus olhos se
fecharem em dor.